Separar o lixo é um ato de cidadania que pode ajudar a salvar o nosso futuro. Apesar de muitas pessoas já saberem disso, a reciclagem ainda está longe de ser o que poderia no Brasil. Existem alguns motivos para isso: faltam incentivos para a viabilidade econômica desse reaproveitamento de material, falta uma estrutura adequada, pessoal qualificado, educação e informação para a população. Algumas pessoas nem sabem diferenciar o que é reciclável ou não.
A reciclagem não tem apenas um impacto ambiental, mas também econômico. Sem mencionar que também promove a fabricação sustentável, porque os fabricantes podem potencialmente reutilizar esses materiais repetidamente. Essa indústria de reaproveitamento é bilionária e emprega centenas de milhares de pessoas todos os anos. O problema é que no nosso país a reciclagem está sendo pouquíssimo incentivada. Dez anos depois do surgimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos o país continua reciclando apenas 3% das 79 milhões de toneladas de lixo que produzimos a cada ano, sendo que o nosso potencial de reciclagem é de até 30%.
Os 5 desafios da reciclagem
1. Falta de coleta seletiva
A maior parte dos municípios que fazem a coleta seletiva, estão concentrados no sul e sudeste. Mesmo nos locais em que existe a coleta, o serviço não chega a todos os bairros. De acordo com um relatório de 2018 da ONG Compromisso Empresarial de Reciclagem (Cempre) somente 17% da população tem acesso a este serviço.
2. Falta de informação
Muitas pessoas ainda não sabem como funciona o processo de reciclagem. Segundo uma pesquisa do Ibope de 2018, cerca de 39% da população ainda não separa o lixo. Não investimos em educar a população. Falta informação sobre o que realmente é reciclável, sobre como higienizar e sobre quais são os materiais mais interessantes para serem reciclados.
3. Desinteresse político
Existe um desinteresse político no tema pela falta de vantagens econômicas na reciclagem. Enquanto algumas materiais têm logística de reaproveitamento estabelecida como os produtos de alumínio, aço e papelão, outros são descartados por não trazerem um bom retorno econômico. É o caso do plástico. O valor pago por ele é tão baixo que não há motivação para que os catadores separem esse produto. É preciso ter um incentivo para que as pessoas atuem nessa área de negócios. Criar mecanismos que favoreçam as indústrias que usem material reciclado, por exemplo.
4. A tributação
Em alguns países como a Alemanha, por exemplo, existem subsídios para as empresas que usam material reciclado. Já no nosso país esse incentivo não existe. Pelo contrário, a tributação é ainda maior. É necessário pagar o imposto no produto quando ele é matéria-prima e depois pagar novamente, quando o produto é reciclado.
Ou seja, o sistema tributário brasileiro taxa mais a matéria-prima reciclada do que a virgem, tornando mais barato fazer um produto novo do que reciclar. No caso do plástico, que representa 20% do resíduo sólido urbano gerado, chegam a incidir oito impostos. O potencial econômico desperdiçado hoje por conta do não tratamento dos resíduos plásticos, por exemplo, é da ordem de R$5,8 bilhões. Sem incentivos fiscais para estimular essa cadeia de materiais a reciclagem se torna economicamente inviável.
5. A falta de padronização
Há normas que padronizam os materiais recicláveis. No entanto, falta uma padronização dos materiais reciclados para seu uso. A falta de identificação adequada dificulta a separação e a reciclagem dos materiais de acordo com a sua composição.
Além disso, em alguns casos, as embalagens chegam a apresentar a identificação do material incorreta. É necessário rever estas normas e especificações técnicas para facilitar o trabalho dentro da cadeia de reciclagem no Brasil.
Então o que podemos fazer?
Para começar, buscar as diretrizes de reciclagem para aplicar na sua casa ou no seu local de trabalho. Basta entrar em contato com seu município e saber quais são os pontos de coleta seletiva onde você pode levar o seu lixo reciclável.
Em segundo lugar, você pode buscar informações sobre como separar e higienizar adequadamente os materiais. Ao tentar reciclar materiais que realmente não podem ser processados, você pode estar causando mais danos do que benefícios. Uma instalação de reciclagem pode ter que jogar fora uma sacola inteira se dentro dela tiver um item contaminado.
Por fim, reduza a quantidade de desperdício que você gera. Reaproveite na sua casa o que for possível. Seguindo essas estratégias e transmitindo todo o conhecimento de reciclagem que você possui para aqueles que vão ouvir, podemos começar a mudar o foco em para a sustentabilidade ambiental e, com sorte, mostrar aos nossos governantes que a reciclagem merece atenção e incentivo.
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