Nos últimos anos surgiram muitas leis que limitam o uso do plástico. Em junho do ano passado o prefeito Bruno Covas sancionou uma lei municipal que proíbe o uso de pratos, copos e talheres de plástico em São Paulo a partir de janeiro de 2021. Essa lei acabou suspensa por uma liminar, depois que pandemia mudou as prioridades da população com relação a higiene.
Assim como em São Paulo, muitos políticos de outras cidades e países fizeram propostas para proibir o uso do plástico descartável. Qual seria a motivação? Uma preocupação real com o meio ambiente? Bem, infelizmente, a resposta é não. As proibições estão muito mais próximas de uma política imediatista que busca votos do que da busca por soluções eficazes.
A política anti-plástico
A justificativa dessa lei e de muitos outros projetos de lei anti-plástico é que o destino dos itens plásticos que usamos são os rios, mares e oceanos. É uma preocupação legítima, porém esses governantes não apresentam nenhuma saída viável para substituição dos materiais que eles querem proibir.
Essas leis são baseadas na suposição de que esses materiais plásticos serão substituídos por materiais biodegradáveis, compostáveis ou reutilizáveis. O problema é que para serem biodegradados, esses materiais não podem apenas descartados jogados no lixo comum. Não, eles não “derretem” sozinhos. Em vez disso, esses materiais biodegradáveis requerem compostagem industrial. Hoje não existe estrutura adequada para fazer isso em escala.
O plástico nem sempre é a pior opção para o planeta
As pessoas e as empresas querem usar menos plástico, e na pressa começam a adotar outros materiais como vidro ou papelão. O que elas esquecem é que estes materiais também têm seus próprios impactos ambientais. O vidro, por exemplo, aumenta as emissões de carbono no transporte porque é mais pesado. Quando você leva em consideração os custos extras de transporte de materiais mais pesados, sua pegada de carbono aumenta.
Já os sacos de papel, que foram adotados por alguns supermercados para produtos frescos, têm uma pegada de carbono de até quatro vezes maior que a de um saco plástico de uso único e são muito difíceis de reutilizar. O papel tende a se desfazer. Assim também acontece com a sacola retornável feita de algodão (que precisa de grandes quantidades de água para ser produzido). De acordo com um estudo de 2008, uma sacola retornável precisaria ser usada 327 vezes para ser tão eficiente em termos de carbono quanto uma sacola plástica comum.
O que realmente ajuda o ambiente
As pessoas precisam aprender, em primeiro lugar, o que elas podem jogar fora e o que devem reciclar. Ainda existe muita desinformação sobre o que pode ser reciclado ou compostado. Os governos que estão envolvidos nas proibições não querem resolver o problema real: a redução do consumo de qualquer material que as pessoas comprem, usem um pouco e então descartem.
O papel da propaganda
No mundo todo, celebridades e influenciadores digitais que se dizem sustentáveis fazem seu discurso anti-plástico desconsiderando que fazem propaganda para vários produtos. Ao fazer a publicidade de produtos de beleza, por exemplo, eles ajudam a criar necessidades para que o público compre coisas que nem sabiam que queriam. A ordem é comprar mais de tudo. Somos bombardeados por anúncios e convencidos de que quanto mais comprarmos, mais satisfatórias serão as nossas vidas.
Ao invés de culpar os resíduos plásticos e os fabricantes, precisamos mudar os hábitos e atitudes do consumidor em relação ao consumo. E entender que para fazer a reciclagem em escala é preciso que exista incentivo governamental.
Para além da reciclagem: o reaproveitamento tem que ser viável
A maioria dos plásticos que consumimos hoje é economicamente inviável de ser reciclada levando em conta as condições do mercado. Ou seja, é muito mais barato produzir um produto novo do que pagar pela reciclagem de um antigo. Falta investimento na indústria de reciclagem. Na Alemanha, por exemplo, existem subsídios para as empresas que utilizam material reciclado.
Não existe o incentivo fiscal para estimular o desenvolvimento da cadeia de reciclagem do plástico no Brasil. Pior do que isso: além de não existir incentivo, tem a tributação que encarece a reciclagem. O imposto incide duplamente no produto: quando ele é matéria prima e depois, quando é reciclado.
Afinal, de quem é responsabilidade?
De todos nós. Governantes e eleitores. Os fabricantes de plásticos e donos de supermercados são normalmente os únicos a ser responsabilizados por um problema que é de todos. A crise dos resíduos plásticos é apenas o sintoma de uma cultura descarte e os plásticos nunca deveriam se tornar resíduos e sim matéria-prima para outros materiais.
A solução
A solução para isso, muito além de uma simples proibição seria ter uma economia circular. Essa economia seria baseada nos princípios de ter controle sobre resíduos e a poluição e manter produtos e materiais em uso. Reduza, reutilize, recicle. O problema é o grande volume de resíduos que produzimos, não é o fato de ser plástico. É a nossa atitude descartável em relação ao plástico que precisa ser mudada.