Em 2018 a China parou de importar resíduos de outros países para processar em suas fábricas, política que o país asiático adotou na década de 1980 para criar as matérias-primas que lhe faltavam. Com isso, muitos países se acostumaram a “exportar seu lixo” para os chineses. Mas desde que a China parou de adquirir até 24 tipos de resíduos, incluindo plástico, os países desenvolvidos passaram a ter que encontrar uma forma de gerenciar seus próprios resíduos. Diante desse quadro, investir e promover a reciclagem é uma das soluções mais viáveis e sustentáveis para enfrentar o problema de lidar com grandes volumes de resíduos.
No campo da reciclagem, os países europeus estão na vanguarda. Eles foram os primeiros a introduzir incentivos políticos para promover a separação do lixo e a reciclagem, bem como medidas para desencorajar produtos de uso único, como sacolas plásticas e canudos. Nesse sentido, a União Europeia estabeleceu o objetivo de reciclar 65% dos resíduos domésticos em 2030. Alguns países já conseguiram fazer com que seus cidadãos e governos cooperassem para atingir altos níveis de reciclagem. Esses são exemplos de políticas bem-sucedidas:
1. Suécia: do lixo à energia
O país escandinavo é um dos territórios europeus com maior cultura de proteção ambiental, portanto, possui uma das taxas de reciclagem de maior sucesso. O sucesso do sistema sueco de gestão de resíduos está centrado na conscientização dos cidadãos para o primeiro passo: a separação do lixo.
Os suecos separam seus resíduos em sacos de cores diferentes, dependendo do tipo de resíduo, e as usinas de reciclagem os separam em elementos recicláveis e não recicláveis. Os resíduos que não podem ser reciclados são queimados em usinas que transformam sua combustão em energia. A energia gerada nesse processo é suficiente para fornecer aquecimento direto para 800.000 residências suecas e eletricidade para 250.000 residências. A Suécia recicla e classifica seu lixo de forma tão eficaz que menos de 1% acaba em aterros sanitários. Os elementos recicláveis seguem o processo normal que os converte em novos materiais.
O processo tem sido tão bem-sucedido que o lixo gerado pelos suecos não é suficiente para abastecer todas as fábricas. Já que vê o lixo como uma mercadoria, o país tem que importar lixo de países vizinhos como Alemanha ou Reino Unido para gerar energia de uma forma mais sustentável do que a queima de combustíveis fósseis. O país adota uma política de reciclagem que canaliza toda a energia gerada pela queima dos resíduos para a rede nacional de aquecimento. Isso fornece uma maneira eficiente de aquecer as casas durante o inverno gelado da Suécia.
2. Japão: o caminho para o desperdício zero
O Japão é um dos países que mais leva a reciclagem a sério. Além do compromisso ambiental, nesse país é importante a necessidade técnica de gerenciar os grandes volumes de resíduos gerados por milhões de pessoas em suas imensas e densamente povoadas cidades. E os japoneses provaram ser extremamente eficientes na reutilização e reciclagem de seus resíduos. O governo do país promove e incentiva a separação da água e os cidadãos gerenciam rigorosamente seus próprios resíduos por meio de um sistema de classificação e cronogramas de coleta que eles cumprem perfeitamente.
Um dos exemplos de sucesso do modelo japonês é a cidade de Kamikatsu, um pequeno município nas montanhas com difícil acesso ao sistema disponível nas grandes cidades. Por isso, são as famílias que fazem a separação dos resíduos em 34 categorias, que posteriormente são transferidos para as centrais de reciclagem. A cidade pretende reciclar 100% de seus resíduos; atualmente já recicla 90%. Além disso, o Japão tem uma alta taxa de reciclagem de metal. As medalhas dos Jogos Olímpicos de Tóquio são um bom exemplo disso, pois serão feitas de metal reciclado.
3. Holanda: sustentabilidade e reutilização
Os Países Baixos são outro exemplo de sustentabilidade, porque aplicam com sucesso modelos de sustentabilidade à mobilidade, à construção e ao consumo. Um exemplo claro de reciclagem de materiais neste país é a construção. Em 2018, foram construídas duas seções de uma ciclovia inteiramente feita de plástico reciclado nas cidades de Zwolle e Giethoorn. O uso de plástico para construir estradas também já foi feito em outros lugares do mundo, mas esta foi a primeira vez que uma ciclovia foi feita inteiramente de plástico.
Além de ter um compromisso claro de reutilizar todos os tipos de materiais, a Holanda também tem um forte compromisso com o uso de fontes de energia renovável e com o investimento no desenvolvimento de iniciativas que levem o país a alcançar uma economia circular e sustentável.
4. Canadá: pneus e bitucas de cigarro
O Canadá não tem uma das taxas de reciclagem mais altas do mundo, mas tem uma cultura de economia circular profundamente enraizada. Isso leva os canadenses a vender, dar ou doar produtos que não estão mais usando em vez de descartá-los. Eles também são especialistas em reciclagem de pneus, pois utilizam o material para se misturar ao asfalto e construir estradas ou revestimento de parques.
Além disso, o Canadá também distribuiu contêineres em várias cidades para reciclar pontas de cigarro, pois são um dos objetos descartados mais poluentes do mundo.
5. País de Gales: aumento da taxa de reciclagem
Em apenas 20 anos, o país passou de uma taxa de reciclagem de 5% do lixo doméstico para incríveis 64%. Estes números são o resultado de um ambicioso pacote de medidas lançado pelo governo, que quer promover a economia circular entre os cidadãos. A meta é não ter nenhum resíduo em lixões ou incineradores até 2050.
Algumas das medidas incluem a redução de produtos descartáveis, a necessidade de separar o lixo doméstico e o envolvimento de fabricantes industriais por meio de um esquema de responsabilidade. O país também propôs o desenvolvimento de usinas de reciclagem capazes de processar produtos que normalmente não são recicláveis, como colchões e fraldas.
6. Cingapura: a estratégia dos 3Rs
O governo implementou a estratégia dos 3Rs (reduzir, reciclar, reutilizar) para conduzir um sistema integrado de gestão de resíduos sólidos. Existem também usinas de incineração de resíduos em energia que oferecem uma ótima solução para a redução de resíduos em aterros. Os 3Rs também evitam a geração de resíduos e ajudam o país a defender sua política de Resíduos Zero.
Aterro de Semakau: o primeiro aterro sanitário offshore do mundo
O único aterro sanitário de Cingapura fica em uma ilha e ocupa uma área de 350 hectares. Os resíduos são coletados e enviados para usinas de transformação de resíduos em energia para incineração. Essas cinzas de incineração então são enviadas para a estação de transferência marinha, onde são transportadas para Semakau. O aterro é forrado com membrana impermeável e uma camada de argila marinha, garantindo que o lixiviado (resíduo tóxico do lixo) seja contido na área e não prejudique o ambiente no entorno.