A previsão de que poderia haver “mais plástico do que peixe no oceano até 2050” preocupa você? E quanto aos relatos de que “comemos o equivalente a um cartão de crédito em plástico por semana”? Esses são alguns dos “fatos” sobre plástico que são citados pela mídia.
Essas frases são impactantes e ajudam a concentrar a atenção política e pública na discussão sobre resíduos plásticos, mas sua base científica está longe de ser robusta.
Os cientistas responsáveis pelas descobertas usadas para apoiar a afirmação de “mais plástico do que peixe” refutaram isso. No entanto, um cientista que trabalhou na fonte original da estimativa agora atualizou seus números. A afirmação é ainda mais enfraquecida pelas suposições nas quais o cálculo se baseia e por uma subestimação das populações de peixes.
Pesquisas também descobriram que os humanos ingerem menos do que um grão de sal de microplásticos a cada semana. Isso significa que levaria cerca de 4.700 anos para ingerir uma quantidade de plástico equivalente ao peso de um cartão de crédito.
Atualmente, estão em andamento negociações em Nairóbi, Quênia, na sede do Programa Ambiental da ONU, para o desenvolvimento de um tratado global juridicamente vinculativo que cubra todo o ciclo de vida dos plásticos ― incluindo sua produção, design e descarte. A Coalizão de Cientistas por um Tratado Eficaz sobre Plásticos (uma rede de especialistas científicos e técnicos independentes) está pedindo que as decisões sejam baseadas em evidências robustas.
Qual o papel da mídia na formação das respostas públicas e políticas à crise dos plásticos?
As imagens da poluição plástica que às vezes são usadas pela mídia são emotivas e poderosas, alcançando vastos números de pessoas. O Blue Planet II da BBC, que foi transmitido mundialmente em 2017, mostrou ao público o impacto do lixo plástico nos oceanos por meio de cenas impactantes.
Imagens como as exibidas na série podem promover a ideia de que a poluição por plástico é um problema distante de nossas vidas cotidianas. Isso faz com que o público não perceba a importância de suas ações cotidianas, como separar o lixo plástico ou participar de iniciativas locais de limpeza, considerando-as de pouco efeito. Não foram constatadas mudanças de comportamento relacionadas à exibição da série.
O foco original do tratado global sobre plásticos era o lixo marinho, mas agora abrange todo o ciclo de vida da poluição plástica em todos os ecossistemas. Isso inclui a poluição plástica na atmosfera, e em ambientes marinhos, terrestres e de alta altitude. Esse escopo mais amplo abre oportunidades de explorar as percepções públicas sobre o ciclo de vida completo dos plásticos.
A mídia é capaz de influenciar a percepção sobre várias questões, mas também há o uso predominante de imagens emotivas que acabam desviando a atenção das políticas que realmente são necessárias.
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