Um dos principais problemas dos grandes centros urbanos está relacionado à gestão dos resíduos sólidos. Na maior cidade da América Latina não é diferente. A cidade de São Paulo produz diariamente cerca de 20 mil toneladas de resíduos sólidos, segundo dados da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb) e em levantamento feito pelo site de notícias G1. Destes, 60% são resíduos domiciliares e tem alta concentração de matéria orgânica. Em 2019, as empresas concessionárias da prefeitura de São Paulo coletaram aproximadamente 80 mil toneladas de resíduos sólidos recicláveis, mas menos de 10% desse montante foi devidamente reciclado nas usinas de reciclagem ou pelas cooperativas que mantêm convênio com a prefeitura.
Com a chegada da pandemia, os meses seguintes a março apresentaram aumento do material reciclado. O mês de abril, por exemplo, teve aumento de 25% em relação a abril do ano passado, e junho de 2020 apresentou um aumento de 35% na reciclagem em relação ao mesmo período de 2019. Esse aumento passou a ser menor nos meses seguintes, devido ao afrouxamento das medidas de isolamento, porém ainda assim, representará um aumento em relação a 2019.
Os desafios da gestão de resíduos sólidos
A gestão dos resíduos sólidos nas cidades brasileiras é um desafio ambiental de enormes proporções. A falta de locais apropriados para novos aterros sanitários, a exaustão da vida útil dos que já existem, a poluição causada pelo lixo urbano e o desperdício de materiais recicláveis demonstram a necessidade urgente de uma revisão do modo como lidamos com os nossos resíduos atualmente.
Nos últimos anos aumentou o reconhecimento do papel desempenhado pelos catadores de materiais recicláveis na base da cadeia produtiva da reciclagem, mas muito ainda precisa ser feito. A participação ativa desses agentes na gestão dos resíduos sólidos precisa contar com o apoio das administrações públicas.
O que são os empregos verdes
Os empregos verdes são ocupações que contribuem para preservar ou restaurar o meio ambiente, seja em setores tradicionais, como manufatura e construção, ou em novos setores, como energia renovável, reciclagem e eficiência energética. Outro benefício desse tipo de emprego é seu efeito na economia global.
De acordo com Organização Internacional do Trabalho (OIT), esse tipo de trabalho:
Aumenta o consumo eficiente de energia e matérias-primas.
Limita as emissões de gases de efeito estufa.
Minimiza o desperdício e a contaminação.
Protege e restaura ecossistemas.
Contribui para a adaptação às mudanças climáticas.
Como a reciclagem cria empregos
A gestão de resíduos sólidos é um processo que, se for altamente mecanizado, é possível ser feito com uma quantidade modesta de mão de obra. A reciclagem, por outro lado, pode ser muito mais trabalhosa. Envolve as atividades de coleta, classificação e processamento, bem como outras funções de apoio, operações de instalações, vendas e suporte logístico. E para tudo isso é preciso que haja capital humano na equação.
A reciclagem é um processo integrado que começa com a coleta de material reciclável em locais como residências, pontos de entrega, construções, centros de demolição e indústrias. Após a coleta, esses materiais recicláveis passam por um processo de triagem completo para separar vários materiais, bem como mercadorias de diferentes qualidades. Para a reciclagem de plástico, papel, metal e vidro, os itens coletados passam por um rigoroso processo para serem utilizados como matéria-prima para a produção de novos bens.
Desde a coleta de materiais até sua venda, as empresas de reciclagem precisam de vários níveis de funcionários qualificados para realizar trabalhos na indústria de reciclagem. Muitas empresas e associações de reciclagem desempenham um papel significativo na construção da consciência social, fornecendo serviços de treinamento em reciclagem.
As cooperativas de reciclagem em São Paulo
No Brasil, o cooperativismo começou com a influência de Portugal e depois da Inglaterra. A criação de empreendimentos econômicos e solidários tem como princípio a coleta, o processamento e a reinserção de produtos reciclados no mercado. A ideia de cooperativa também vai ao encontro de criar alternativas para gerar trabalho e renda para um grande número de pessoas que sobrevivem abaixo da linha da pobreza. Já existe um número significativo de pessoas que sobrevivem da coleta e comercialização dos materiais recicláveis. A criação de cooperativas populares de reciclagem veio para promover a inclusão social através da reciclagem e também melhorar as condições de trabalho.
As cooperativas como alternativa de geração de trabalho, renda e a problemática ambiental
Estas cooperativas apresentam-se não só como uma solução para o problema da destinação final do resíduo sólido na cidade no âmbito ambiental, mas também como forma de geração de trabalho e renda para uma população muitas vezes posta à margem da sociedade. Com o trabalho realizado pelas cooperativas, gera-se renda e o lucro é repartido entre os cooperados. Em geral, o trabalho realizado na cooperativa ainda é precário. As cooperativas podem gerar ocupação e renda para um grande número de pessoas que sobrevivem em condições muitas vezes deficitárias e transforma o desenvolvimento dessas iniciativas em alternativas para manejo de resíduos sólidos urbanos.
As cooperativas cumprem papel importante na iniciativa de Logística Reversa que se pretende implantar nos centros urbanos, e fazem isso em várias etapas do processo. Através de seus associados ou de catadores autônomos, são responsáveis por grande parte da coleta, seja nas ruas ou nos lixões e separação de material reciclável. Além do ganho ambiental e da redução de custos de produção ocasionados pela reciclagem, outro aspecto de impacto gerado é o social. Tendo a sua atividade reconhecida como profissão pela CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) a categoria dos Catadores de Materiais Recicláveis mobiliza uma força de trabalho considerável na coleta, separação e destinação do material reciclado, gerando renda e emprego para milhares de pessoas. Existem entre 800 mil e 1 milhão de catadores de resíduos sólidos no Brasil, entre autônomos e ligados a cooperativas.
Muito dinheiro jogado no lixo
Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), o nosso país perde anualmente R$14 bilhões em resíduos que deixam de ser aproveitados.
Todo ano o Brasil gera 79 milhões de toneladas de lixo, mas só aproximadamente 4% são reciclados e passam a gerar matéria-prima para produtos novos, dinheiro e empregos. Outros 12 milhões de toneladas acabam no meio ambiente. Dos 3,4 milhões de toneladas de resíduos plásticos pós-consumo gerados em 2018, pouco mais de 22% foi efetivamente reciclado. Quase um milhão de toneladas foram destinadas à coleta seletiva, porém apenas 76% do material coletado foi devidamente reciclado. O restante, infelizmente, foi parar em aterros sanitários ou, pior, no meio ambiente.
Composição dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil
Fonte: PANORAMA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 2020, da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais)
O futuro dos resíduos no Brasil
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos, determinou uma meta ambiciosa de que, até 2040, no mínimo 20% do total de resíduos sólidos urbanos sejam reciclados e 72,6% da população tenha acesso a sistema de coleta seletiva. O plano para o estado de São Paulo é de que, até 2025, seja criado um fórum permanente de discussão para definir regras de incentivo tributário para as indústrias de reciclagem.
Existe uma relação direta entre aumento do poder aquisitivo, meta de todos os governos, e o aumento da produção de resíduos. Ou seja, se o Brasil alcançar um patamar de desenvolvimento econômico equivalente aos países de economia avançada, vai aumentar a sua produção de resíduos. Esse cenário pede a ampliação das políticas públicas de incentivo à reciclagem de resíduos sólidos e a ampliação de quadros cooperativistas para a geração de emprego e renda.
É preciso preparar a situação agora para que não fique mais complicada no futuro. Em particular, a cadeia produtiva de resíduos sólidos urbanos em São Paulo destaca-se como um enorme potencial de promover geração de renda para milhares de pessoas que dela necessitam e estão dispostas a trabalhar na área ambiental.
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