Enfrentaremos muitos desafios nas próximas décadas: perda de biodiversidade, crescente desigualdade social, e mudanças climáticas. Essas crises globais sistêmicas não podem ser enfrentadas isoladamente, porque estão todas interconectadas. Mas nossos sistemas econômicos não são adequados para proporcionar um bom equilíbrio de objetivos ambientais e sociais. Em sua forma atual, as economias incentivam o consumo excessivo e a degradação da riqueza natural. Mas isso não é inevitável ou imutável; é simplesmente como nossas economias evoluíram para operar. Para resolver esses problemas, é necessária uma nova visão econômica.
A economia verde vai ajudar a diminuir os impactos ambientais para o futuro e minimizar os já existentes. Essas mudanças podem, com o tempo, garantir a perpetuação dos recursos naturais, de acordo com Cristina Pires, bióloga e professora de ciências biológicas. “No Brasil, vemos isso acontecer em algumas comunidades ribeirinhas da Amazônia, por exemplo, e se tornou também uma forma de distribuição de renda. Quem vive dessa atividade extrativista encontrou ali um caminho para sobreviver do que retira da natureza”, disse Cristina. Para a bióloga, o melhor de tudo é que esse trabalho está sendo feito de forma sustentável, já que essas comunidades estão em harmonia com o local em que vivem e trabalham. “Porém, é necessário a escala destas ações, ainda existe muito a ser feito”, acrescenta.
A definição de economia verde é exatamente esse conjunto de atividades produtivas destinadas a reduzir o impacto ambiental através de novas fontes de energia, inovações tecnológicas e redução de resíduos. Inspirada na sustentabilidade ecológica, ela cria muitas oportunidades de emprego. Além disso, essa economia não se preocupa apenas com a produção, mas também com o impacto que terá sobre o meio ambiente. Com intervenções privadas e financiamento público, é possível expandir essas ações e reduzir a poluição, como exemplificou a bióloga, além de preservar o ecossistema e a biodiversidade.
Um futuro econômico mais justo
A economia verde busca proporcionar a prosperidade para todos nos limites ecológicos do planeta. “Ter um crescimento verde significa promover o crescimento econômico e o desenvolvimento sem deixar de garantir que os ativos naturais continuem a fornecer os recursos e serviços ambientais dos quais o nosso bem-estar depende”, reforça Pires. “Para isso, precisamos incentivar o investimento e a inovação, que sustentarão o crescimento e darão origem a novas oportunidades econômicas”, diz ela.
O crescimento verde não substitui o desenvolvimento sustentável
O foco das estratégias de crescimento verde é garantir que os ativos naturais possam oferecer todo o seu potencial econômico de forma sustentável. Esse potencial inclui a prestação de serviços essenciais de suporte à vida – ar e água limpos e a biodiversidade resiliente necessária para apoiar a produção de alimentos e a saúde humana. Os ativos naturais não são infinitamente substituíveis e as políticas de crescimento verde levam isso em consideração.
“O fato é que os desafios terão que ser superados visto que não há outro caminho a seguir. Os recursos naturais são finitos e já estamos sentindo os impactos de anos e anos de exploração sem planejamento, prova disso são as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade”, diz a bióloga. Muitas empresas acreditam que na implantação de projetos ecologicamente sustentáveis, o gasto sempre será maior que um projeto tradicional e são resistentes a isso, de acordo com ela. “Os custos para o investimento inicial são mesmo maiores, mas a longo prazo são compensados pelo resultados positivos tanto econômicos quanto ambientais”, explica Pires.
Os 5 princípios da economia verde
1. O princípio do bem-estar
Uma economia verde permite que as pessoas criem e desfrutem de prosperidade. Ela é centrada nas pessoas. Seu objetivo é criar prosperidade genuína e compartilhada.
2. O princípio da justiça
A economia verde promove a equidade dentro e entre gerações. Ela compartilha a tomada de decisões, benefícios e custos de maneira justa; evita captura de elite; e apoia especialmente o empoderamento das mulheres.
3. O princípio dos limites planetários
A economia verde protege, restaura e investe na natureza. Uma economia verde inclusiva reconhece e nutre os diversos valores da natureza, reconhece a substituibilidade limitada do capital natural e investe na proteção, crescimento e recuperação da biodiversidade, solo, água, ar e sistemas naturais.
4. Princípio da eficiência e suficiência
A economia verde é voltada para apoiar o consumo sustentável e a produção sustentável. Uma economia verde inclusiva é de baixo carbono, conservadora de recursos, diversa e circular.
5. Princípio da boa governança
A economia verde é guiada por instituições integradas, responsáveis e resilientes.
O modelo da economia verde
A economia verde representa um modelo teórico de desenvolvimento econômico que considera o impacto das ações humanas. Os investimentos privados, com os gastos públicos, possibilitam as reformas políticas e as mudanças que preservam a natureza.
O melhor gerenciamento dos recursos naturais, a otimização da produção e o aumento do PIB ajudariam o planeta a sustentar o impacto do homem e isso certamente levaria ao desenvolvimento econômico. O consumo excessivo de matérias-primas causa aumento de preço e danifica o sistema, enquanto a economia verde cria empregos e melhora o mercado de trabalho em áreas como agricultura, energia renovável, bio-arquitetura e reciclagem.
Os objetivos
As atividades produtivas não derivam apenas de fontes renováveis de energia ou reciclagem de resíduos, mas incluem toda a conversão sustentável dos setores tradicionais, portanto:
- Indústrias, edifícios e escritórios, reformados com economia de energia, aquecimento, dispersão de calor, etc.
- Setores econômicos que desejam reduzir o impacto ambiental na extração, transporte, tratamento e processamento de matérias-primas;
- Inovação tecnológica para a redução de resíduos nos processos produtivos, principalmente em relação às embalagens;
- Inovações produtivas para reduzir as emissões de CO₂ e outros poluentes.
Portanto, a inovação pode contribuir ativamente para reduzir o desperdício e o impacto ambiental, além de melhorar a economia verde. Os dados do Eurostat mostram que na Europa a riqueza produzida pela economia verde aumentou de 135 para 289 bilhões de euros nos últimos 15 anos e também o volume de negócios cresceu exponencialmente, chegando a 700 bilhões de euros. Além disso, o emprego sustentável tem um crescimento exponencial, com um aumento de 49% para os empregos verdes e apenas 6% para as ocupações tradicionais. Espera-se que em 2025 sejam feitos cerca de 190 bilhões de euros em investimentos nos países europeus, com aumento de 682 bilhões de euros em produção e cerca de 800 000 novos empregos, com foco na sustentabilidade, melhoria da eficiência energética e redução do consumo de energia.
Prós e contras da economia verde
A economia verde exige uma profunda transformação da sociedade. É necessária uma responsabilidade social corporativa que envolve o uso de ferramentas e tecnologias com baixo impacto ambiental. Aqui estão os limites da economia verde:
- Os custos são mais altos que as tecnologias tradicionais, por ainda ser uma indústria em crescimento;
- Menos desempenho do que as tecnologias tradicionais, o que tende a melhorar com o tempo.
As vantagens da economia verde são, portanto, naturais, mas também econômicas e sociais:
- Produção alternativa de energia renovável com menos impacto no meio ambiente, como tecnologias verdes (eólica, solar, biomassa, etc.);
- Maior eficiência e menos desperdício, usando produtos e serviços que precisam de menos energia;
- Menos impacto no meio ambiente, reduzindo o efeito estufa e o aquecimento global;
- Criação de novos empregos, com novas indústrias e mercados.
A importância do gerenciamento dos resíduos
A reciclagem é uma das principais formas de incentivar o uso racional dos matéria-prima e ajudar a reduzir o desperdício e o uso dos recursos naturais do planeta. A logística reversa de material plástico, por exemplo, faz parte do modelo de economia verde que garante o descarte correto e a reciclagem destes materiais. Utilizar a logística reversa poupa o meio ambiente
A reciclagem na economia verde
Reutilizar os resíduos como matéria-prima tem sido umas das principais formas economicamente viáveis e sustentáveis para algumas empresas. Muitos negócios hoje já tem como principal fonte de matéria-prima o resíduo industrial que outras empresas produzem. Esse mercado é uma oportunidade de lucro. Os benefícios da reciclagem são muitos: redução do acumulo de resíduos, economia de recursos para a produção de novos materiais, redução de emissão de gases como metano e gás carbônico, menor consumo de energia, entre outros. A reciclagem também gera renda para quem trabalha com ela e melhora na qualidade de vida das pessoas em geral, já que ajuda na preservação do ambiente.
O caminho: educação ambiental e melhores escolhas
A economia verde é uma mudança universal e transformadora e isso exigirá uma mudança fundamental nas prioridades do governo. Realizar essa mudança não é fácil, mas é necessário se queremos alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável. Para ter uma economia limpa e ecológica que promove a saúde, a riqueza e o bem-estar, dependemos do desenvolvimento sustentável. Isso significa incentivar nossas economias de maneira a beneficiar, e não sacrificar, a justiça social e a equidade, bem como o meio ambiente.
A ideia é atender às necessidades do presente sem ameaçar a qualidade de vida das gerações futuras. A educação tem um papel fundamental na criação de uma consciência ambiental, segundo Cristina. “Nosso trabalho é mostrar como os impactos ambientais negativos tem efeito na nossa vida. Por exemplo, a falta de água que já é sentida em algumas cidades, é resultado da mudança no regime de chuvas e do aquecimento do planeta”, explica. A professora acrescenta que como cidadãos temos o poder não só de conservar, mas de exigir que governos e empresas também preservem o meio ambiente.
Construir uma economia verde não significa jogar fora o sistema antigo e começar do zero, e sim fazer escolhas de acordo com o custo total – não apenas o custo financeiro – de toda e qualquer atividade. Como consumidor, você tem algo chamado “poder de compra”. Isso significa que quando você compra, mostra para o mercado mundial o que você prefere. Quando você escolhe um produto sustentável – como produtos reciclados ou extraídos de maneira sustentável -, envia a mensagem aos produtores de que eles precisarão fazer a transição para práticas sustentáveis para conquistar você como um cliente em potencial. Quando você incentiva seus amigos, familiares e uma comunidade maior a apoiar produtos sustentáveis, causa um impacto ainda maior.