Saudado como um material milagroso em meados do século 20, os plásticos agora fazem parte de todos os aspectos da vida cotidiana. No entanto, o aumento do volume de lixo plástico traz preocupações.

O Sudeste Asiático destacou-se como um ponto crítico de poluição plástica, com sua rápida urbanização, crescente classe média e infraestrutura inadequada para o gerenciamento de resíduos. Metade dos 10 principais países que contribuem para o vazamento de plástico nos rios e mares está localizada nessa região.

A COVID-19 agravou ainda mais a situação, provocando enormes aumentos no consumo de máscaras, garrafas de desinfetante, embalagens de entrega online e outros itens de uso único.

Economia linear, lixo e desperdício

A economia linear prevê um ciclo de uso e descarte, o que gera grandes desperdícios. Como resultado, cerca de 95% do valor das embalagens plásticas ― US$ 80 a 120 bilhões por ano ―  são perdidos para a economia à medida que os itens são descartados.

Na Malásia, Filipinas e Tailândia, mais de 75% do valor material do plástico reciclável é perdido ― o equivalente a US$ 6 bilhões por ano – quando o plástico de uso único é descartado em vez de recuperado e reciclado, segundo estudos do Grupo Banco Mundial.

Os países do Sudeste Asiático vêm preparando planos de ação e estratégias de economia circular que priorizam políticas e investimentos relacionados ao plástico nos principais setores e locais.

No entanto, com rios e costas compartilhados, bem como mercados regionais para produtos e resíduos plásticos, os países não podem enfrentar esse desafio sozinhos. 

Soluções precisam cruzar fronteiras

Reconhecendo a natureza transfronteiriça dos plásticos marinhos, a ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) lançou a Declaração de Bangkok sobre o Combate aos Plásticos Marinhos em 2019.

Dois anos depois, um Plano de Ação Regional da ASEAN estabeleceu 14 ações prioritárias para os Estados-membros. E no mês passado, o Banco Mundial aprovou uma doação de US$ 20 milhões para apoiar essas ações, que incluem o fortalecimento e a harmonização de políticas que regem a produção e o uso de plásticos em toda a região.

Os países estão usando métodos inovadores para medir e monitorar o vazamento de plásticos em terra e nos rios e mares regionais ― isso inclui desde monitoramento com drones no Camboja até avaliações iniciais do descarte de plásticos na Indonésia.

Em toda a região, exemplos de instrumentos e legislação já testados em outros países do mundo estão sendo testados, como impostos sobre sacolas plásticas, proibições de determinados produtos plásticos e sistemas de devolução de garrafas.

A relação entre plásticos e sociedade está evoluindo, com foco no design de produtos para minimizar o desperdício, juntamente com reutilização ou reciclagem.

Isso requer inovação em toda a cadeia de valor do plástico, incluindo tecnologias inovadoras (como filtros para máquinas de lavar ou captura de plásticos nos rios) e novos tipos de financiamento (como instrumentos de financiamento azul).

Por meio de uma plataforma de inovação regional que o projeto do Banco Mundial está apoiando, os estados-membros da ASEAN poderão compartilhar e replicar inovações em plástico, bem como se conectar a diversas fontes de financiamento.

Padrões mais simples entre os países são necessários

Do lado do setor privado, as inovações geralmente resultam de políticas voltadas para o futuro.

No entanto, iniciativas para avançar em direção a projetos inteligentes com plásticos são, às vezes, frustradas por confusas regulamentações, padrões, certificações e rotulagem que variam entre os países.

Por essa razão, os estados-membros da ASEAN estão pedindo apoio para harmonizar regionalmente os padrões para plásticos reciclados, bem como requisitos técnicos para embalagens e rotulagem de plástico.

Isso deve ser acompanhado por esforços para aumentar a conscientização dos consumidores, para que façam escolhas conscientes sobre o que compram e como descartam.

Reúso e reciclagem são as melhores alternativas

Relatórios recentes mostram que a indústria e os governos contam com soluções que reduziriam o vazamento anual de plástico no oceano em cerca de 80% abaixo dos níveis projetados para 2040.

Mas, para cumprir sua parte, o Sudeste Asiático precisa de estruturas regulatórias mais sólidas, modelos de negócios mais inovadores e uma gama mais ampla de mecanismos de financiamento.

O Sudeste Asiático tem presenciado sua parcela de relatos na mídia, fotografias e histórias virais nas redes sociais sobre “rios de plástico”, com tartarugas marinhas e outras espécies marinhas vulneráveis presas em redes de pesca descartadas.

Porém, com a adoção de uma economia circular, esse cenário pode ser transformado. Um relatório da Fundação Ellen MacArthur mostra que apenas na China, a adoção da economia circular em grande escala pode significar uma economia de mais de US$ 10 trilhões para famílias e empresas até 2040, além dos ganhos ambientais.

O Sudeste Asiático pode caminhar em direção à sustentabilidade, ao transformar a maneira como os plásticos são produzidos e utilizados.

Fontes:

https://ellenmacarthurfoundation.org/pt/regioes/asia

https://blogs.worldbank.org/eastasiapacific/turning-tide-plastic-pollution-through-regional-collaboration-southeast-asia