Alguns ambientalistas defendem o uso de materiais considerados mais ecológicos, como vidro e papel. No entanto, ao analisarmos o ciclo de vida desses itens, facilmente percebemos que o plástico tem um impacto ao meio ambiente muito menor, sendo assim uma opção mais sustentável comparado a materiais que, à primeira vista, parecem menos poluentes.

É sobre esse equívoco de percepção que Leyla Acaroglu, estrategista de sustentabilidade e design, falou em sua palestra do TED Talk disponível neste link.

Leyla é PhD em filosofia, socióloga e designer. Ela defende uma abordagem disruptiva do design de produtos, com foco no ciclo de vida e na redução dos impactos durante a produção, consumo e descarte desses itens. 

A especialista conta em sua palestra que os designers com quem trabalha sempre pedem por “materiais ecológicos”, conceito que ela refuta, já que tudo, em algum momento, vem da natureza e que o impacto ambiental se dá pela maneira com que o material é utilizado.  “Então, o que acontece é uma espécie de raciocínio intuitivo, quando tomamos decisões”, afirma Leyla. Ela define esse “raciocínio intuitivo” como a sensação de que se fez a coisa certa ao escolher uma sacola de papel ou ao comprar um carro com baixo consumo de combustível.

O problema desse raciocínio intuitivo, também chamado pela PhD de folclore ambiental, é que ele não tem base científica. Ela ressalta que vivemos em sistemas complexos, e que as nossas escolhas individuais devem funcionar dentro de um sistema maior ― o ecossistema.

“Se quisermos realmente lidar com a sustentabilidade, precisamos encontrar maneiras de interligar esses sistemas complexos e fazer escolhas melhores, que resultem em ganhos ambientais líquidos”, afirma a palestrante.

E é nesse ponto que o ciclo de vida deve ser considerado. A avaliação do ciclo de vida é um processo científico, que abrange desde a extração de matérias-primas, passando pela fabricação, embalagem, transporte, uso e fim da vida útil. “Em cada uma dessas etapas, o que fazemos interage com o meio ambiente, e podemos monitorar como essa interação afeta os sistemas e serviços que possibilitam a vida na Terra e, ao fazer isso, aprendemos algumas coisas absolutamente fascinantes e já desmascaramos vários mitos”, destaca Leyla. 

Ou seja, se realmente queremos ser mais sustentáveis, é necessário fazer escolhas que realmente resultem em ganhos ambientais ao final do ciclo.

Um dos termos refutados pela pesquisadora e especialista é a palavra “biodegradável”. Leyla explica em sua palestra que algo natural pode se decompor normalmente quando vai parar no meio ambiente. Neste caso, as moléculas de carbono são liberadas e voltam à atmosfera na forma de dióxido de carbono. Mas, quando falamos de espaços urbanos, até mesmo restos de comida vão parar em aterros sanitários, assim como a maioria das coisas que produzimos. Esses aterros são ambientes anaeróbios (sem oxigênio), locais apertados e quentes. Durante o processo de decomposição, as moléculas transformam-se em metano, um gás de efeito estufa 25 vezes mais poluente que o dióxido de carbono e que contribui para a mudança climática. Portanto, ao trocar uma sacola plástica por uma de papel, se essa sacola de papel acaba em um aterro sanitário, ela não é uma escolha ecológica, por acabar se transformando em um agente poluidor e nocivo como qualquer outro.

Além disso, Leyla lembra que ao considerarmos a funcionalidade, o plástico representa um impacto menor ao planeta do que o papel, já que a quantidade de plástico necessária para transportar as compras de um mercado para a residência é menor do que a quantidade de papel utilizada para carregar o mesmo peso. 

A especialista ainda cita aparelhos comuns no nosso dia a dia que colaboram para que alimentos e outros itens sejam estragados e desperdiçados, como a gaveta de legumes da geladeira e os aparelhos celulares, que geram toneladas de lixo eletrônico ao serem descartados. O design é a melhor solução para lidar com o problema, criando produtos que possam ser inseridos em um ciclo fechado e reaproveitado de maneira consciente, já que o alto consumo e a demanda desenfreada faz com que a produção de lixo aumente cada vez mais.

Ao final da palestra, Leyla Acaroglu incentiva os participantes a serem pioneiros a buscarem soluções inteligentes e inovadoras, que considerem a análise do ciclo de vida, para que a vida em sociedade e o consumo sejam, de fato, mais sustentáveis.

Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=2L4B-Vpvx1A