Podemos observar uma preocupação verdadeira entre os ambientalistas e a população quanto à preservação do planeta e a produção de lixo. Essa questão torna-se ainda mais urgente quando observamos que as consequências da falta de sustentabilidade estão cada vez mais à nossa porta, como por exemplo, o aumento do aquecimento global, resultante da redução da camada de ozônio.

E em todas as discussões, o plástico é apresentado como o verdadeiro vilão. Basta uma pesquisa rápida no Google para encontrar diversas imagens de plásticos retratados como a prova do descaso do homem em relação à natureza.

Mas será que esse conceito corresponde à realidade? É o que discute o Dr. Chris DeArmitt, considerado um dos maiores especialistas em plásticos e solucionador de problemas, no ebook The Plastic Paradox, que pode ser encontrado neste link. Chris é um palestrante premiado sobre materiais plásticos, meio ambiente e inovação, e já ajudou empresas como BASF, HP, Apple e Disney.

No livro, Chris traz várias questões que nos fazem repensar a fama do plástico como poluidor da natureza e entender que, na verdade, temos em mãos um material poderoso que pode nos ajudar a frear a exploração dos recursos naturais, sem afetar drasticamente os hábitos da sociedade atual.

Confira algumas reflexões interessantes que extraímos de “Paradoxo dos Plásticos”.

Quais lições podemos aprender com o passado?

Em 1880, havia mais de 150 mil cavalos vivendo em Nova York, cada um produzindo mais de vinte libras de estrume por dia, o que significa 45 mil toneladas de excremento por mês. As ruas estavam cobertas e o cheiro era horrível. Essa situação levou arquitetos a criarem os edifícios Brownstone, com portas da frente acima do nível da rua para evitar odores desagradáveis. Em Londres, estimou-se que em 50 anos toda a cidade estaria soterrada por 3 metros de estrume.

E o que foi feito para solucionar o problema? Na verdade, a tecnologia trouxe mudanças como a eletrificação do transporte público e a adoção do automóvel. Alguns problemas ambientais só foram resolvidos com medidas regulatórias severas. 

O Grande Nevoeiro de Londres ocorreu em 1952, quando a cidade foi tomada por um nevoeiro fétido que levou 5 dias para se dissipar. Além do desconforto, o grande nevoeiro deixou 100 mil pessoas doentes e provocou a morte de 12 mil moradores. O motivo? A presença de ácido sulfúrico no ar, provocada pela queima de carvão. Essa tragédia levou às primeiras discussões e à criação de leis que defendem a limpeza do ar.

O que tudo isso tem a ver com o cenário atual?

Bem, voltando para a década atual e para a questão dos plásticos. Esses acontecimentos passados trazem algumas pistas sobre a crise dos dias de hoje, na qual os resíduos produzidos pelo estilo de vida apontam para um sério problema ecológico.

Temos problemas com o lixo porque ainda não há regulamentações acertadas, nem sistemas de coleta e reciclagem que funcionem de maneira abrangente.

O plástico tornou-se mais popular após a Segunda Guerra, quando a indústria começou a usá-lo para fabricar bens de consumo. Com isso, a produção de lixo plástico também aumentou. 

A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) registra a quantidade de lixo doméstico produzido por ano, para que existam fontes de informações precisas disponíveis ao público. Ao consultar essas informações, Chris descobriu que apesar do crescimento dos resíduos plásticos nas últimas décadas, esse montante representa uma parcela pequena do lixo em geral, ocupando o 4º lugar no ranking de volume de resíduos, sendo que nos primeiros lugares estão o papel e papelão, restos de comida e aparas de jardim.

redução resíduos sólidos 1
Fonte: www.epa.gov


E o que mais esses dados apresentam? Seria uma conclusão comum que com o aumento da população, a quantidade de resíduos produzidos também aumentasse ao longo dos anos. Porém, esse número diminuiu. Tal fato foi pesquisado por cientistas, que constataram que o uso do plástico tem ligação direta com a redução da quantidade de resíduos sólidos.

Uma comparação das taxas de resíduos mostra que os plásticos aumentaram quase 84 vezes de 1960 a 2013, enquanto a quantidade total de resíduos aumentou apenas 2,9 vezes. Essa equação coincide com a diminuição de vidro e metal encontrados na quantidade de lixo registrado nos documentos da EPA.

Além disso, o cálculo das taxas de substituição de materiais como vidro, metal e outros materiais por plástico, em embalagens e recipientes, demonstra uma redução geral por peso e por volume nos resíduos sólidos de aproximadamente 58% no mesmo período.

E a substituição de plástico por outros materiais “sustentáveis”?

Uma análise mais aprofundada foi conduzida para estimar o impacto da substituição do plástico. Segundo o relatório, “para as seis categorias de embalagens analisadas ― tampas e fechos, recipientes de bebidas, filmes extensível e retrátil, sacolas, outras embalagens rígidas e outras embalagens flexíveis ― 14,4 milhões de toneladas de embalagens plásticas foram usadas nos EUA em 2010. Se outros tipos de embalagens fossem usadas para substituir as embalagens plásticas dos EUA, seriam necessárias mais de 64 milhões de toneladas de embalagens. A embalagem substituta exigiria 80% mais demanda cumulativa de energia e resultaria em 130% mais impactos potenciais de aquecimento global, se comparada com o equivalente em embalagens de plástico. ”

Ou seja, a substituição do plástico por outros materiais causa um efeito negativo de maior intensidade ao planeta, produzindo mais gás carbônico e levando à produção de mais resíduos sólidos ― cerca de três a quatro vezes mais. Isso parece sustentável para você?

Essas informações deixam claro que a nocividade do plástico não passa de uma percepção equivocada. Embora a quantidade de plástico tenha aumentado muito nas últimas décadas, e isso seja claramente percebido, é importante refletir que o plástico substitui papel e papelão que se transformariam em um volume muito maior de lixo ao longo dos anos.

E antes que você pense que o papel se degrada mais rápido que o plástico … bem, em condições comuns de descarte, como em aterros, o papel não tem o tempo de biodegradação de alguns meses como propagado em algumas fontes, já que ele não está em um ambiente aeróbio para realizar esse processo. 

Para que essa montanha de lixo de papel fosse eliminada, ela deveria ser incinerada, o que resultaria na emissão de gases tóxicos em grande volume. Sem contar nas árvores, água e energia necessários para a produção do papel.

E quanto à reciclagem? Sim, o papel pode ser reciclado. Mas o plástico também pode, além de poder ser reutilizado inúmeras vezes antes de ser descartado. E essa reciclagem depende de um sistema fechado de coleta e destinação, que falta tanto para o papel quanto para o plástico. Ou seja, sem o plástico, provavelmente estaríamos com um problema ambiental bem maior, mas provocado por outro material.

Para saber mais sobre o assunto, confira o livro Paradoxo dos Plásticos.