Os canudos de papel foram apresentados como uma alternativa mais sustentável em comparação ao plástico, mas alguns estudos comprovaram que essa opção está longe de ser a ideal.
Cientistas na Bélgica testaram recentemente dezenas de canudos de supermercados, lojas de varejo e restaurantes fast-food no país e descobriram que a maioria continha PFAS ― uma família de produtos químicos sintéticos usados na fabricação de produtos de consumo graças à resistência a manchas, gordura e água.
Os resultados foram publicados na quinta-feira no jornal “Food Additives and Contaminants”.
PFAS, sigla para substâncias per- e polifluoroalquil, são frequentemente chamados de “produtos químicos persistentes” porque permanecem quase permanentemente no ar, na água e no solo. Eles são frequentemente detectados em cosméticos, carpetes, móveis e têxteis, como capas de chuva ou roupas de ginástica.
Dos canudos testados no estudo, os de papel eram os mais propensos a conter PFAS: os produtos químicos foram detectados em 18 de 20 marcas. Quatro em cada cinco canudos de bambu amostrados continham PFAS, em comparação com três em cada quatro canudos de plástico.
Pesquisas anteriores nos Estados Unidos também detectaram PFAS em canudos de papel e outros canudos à base de plantas, entre muitos outros tipos de utensílios de cozinha e embalagens.
A exposição ao PFAS pode estar associada a baixo peso ao nascer, colesterol alto, doenças da tireoide e um risco aumentado de câncer de rim e fígado, mas os pesquisadores ainda estão aprendendo sobre esses riscos à saúde e não têm certeza de quais níveis de exposição são problemáticos.
Thimo Groffen, autor do novo estudo e cientista ambiental da Universidade de Antuérpia, disse que não está claro se os fabricantes dos canudos que ele analisou estão adicionando intencionalmente PFAS como revestimento à prova d’água. Outras possibilidades, segundo ele, são que o PFAS acaba acidentalmente nos canudos durante o processo de produção ou que os canudos de bambu contenham pequenas quantidades de PFAS devido às plantas cultivadas em solo contaminado.
Graham Peaslee, que estuda PFAS na Universidade de Notre Dame e não esteve envolvido na nova pesquisa, disse que é possível que os fabricantes não estejam testando os produtos químicos em seus próprios produtos.
“Todos os fabricantes de canudos deveriam se alertar e perguntar: ‘Ei, estamos usando essa substância?’ Porque no momento, eles nem sequer estão fazendo essa pergunta”, disse Peaslee.
Groffen acrescentou que, porque os PFAS se acumulam no corpo, as pessoas devem idealmente reduzir as exposições sempre que possível: “Tudo se soma com outras rotas de exposição e a combinação poderia causar efeitos na saúde”, disse ele.
Os PFAS infiltram-se em alimentos e água?
Não há limite federal para os PFAS em embalagens de alimentos nos Estados Unidos, embora alguns estados tenham suas próprias restrições. A Food and Drug Administration (FDA) permite o uso de PFAS em equipamentos de processamento de alimentos e como agente à prova de gordura em embalagens de alimentos de papel.
Enquanto isso, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) propôs limites para os PFAS na água potável, mas ainda não emitiu uma regra final.
Keith Vorst, diretor do Consórcio de Proteção de Polímeros e Alimentos da Universidade Estadual de Iowa, afirmou que alguns dos canudos no estudo excederam as concentrações propostas pela EPA para a água. No entanto, ele observou que os pesquisadores não testaram se os PFAS vazam dos canudos para as bebidas, ou se usar um canudo necessariamente faz alguém ingerir os produtos químicos.
Avaliando os danos de canudos de papel versus plástico
Vários estados, incluindo Califórnia, Colorado, Nova York e Oregon, baniram canudos de plástico de estabelecimentos de alimentos nos últimos cinco anos, e cadeias como o Starbucks os eliminaram gradualmente.
O motivo principal é que os canudos geralmente não podem ser reciclados, então acabam em aterros sanitários, são queimados em incineradores ou se tornam lixo que contamina oceanos, rios, lagos e córregos. Como o plástico não se decompõe facilmente, pode persistir no meio ambiente por até 200 anos, ameaçando a vida de mamíferos marinhos.
Canudos de papel e bambu têm ganhado popularidade como alternativas, mas os pesquisadores afirmaram que, às vezes, a solução não é muito melhor do que o problema.
“Se eles vêm com PFAS, eles não são mais tão ecologicamente corretos”, disse Peaslee.
Os PFAS podem vazar de aterros sanitários para a água e o solo e têm efeitos tóxicos em animais, incluindo danos ao fígado ou problemas reprodutivos. O estudo de Groffen detectou um composto específico altamente solúvel em água, o ácido trifluoroacético, em cinco canudos de papel e um de bambu.
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