A produção de bioplásticos tem previsão de crescimento de 65% até 2023 e à primeira vista tende a deixar uma pegada ecológica menor, porém são tão ou mais tóxicos do que o plástico comum.

À medida que surgem mais pesquisas sobre o impacto do uso de tanto plástico, consumidores e fabricantes ficam lutando por uma alternativa para esse material quase onipresente, e foi aí que os bioplásticos surgiram como uma alternativa potencial. À primeira vista, o material parece muito promissor, com um nome que sugere um produto ecologicamente correto. Mas o bioplástico é a solução para os nossos problemas ambientais? Será mesmo possível fabricar item descartável fácil de usar, que parece feito de plástico, sem prejudicar o meio ambiente?

A resposta para essa questão é bem complicada. Cientistas, fabricantes e especialistas ambientais alertam que seus benefícios potenciais dependem de muitos “se”. E qual a importância de entender essa questão como consumidores? Estamos sendo convidados a trocar os utensílios de plástico comum por bioplástico o tempo todo, em alguns casos essa troca está sendo até imposta, como acontece em São Paulo caso a lei 17.261/20 entre mesmo em vigor em 2021. 

1. O que é o bioplástico?

Bioplástico se refere ao plástico feito de biomassa vegetal (plantas) ou outro material biológico ao invés de petróleo. Também é chamado de plástico de base biológica. Esse tipo de plástico pode ser decomposto por micróbios e transformado em biomassa, água e gases (dióxido de carbono ou metano).

Ele pode ser feito extraindo açúcar de plantas como milho e a cana-de-açúcar para se converter em ácidos poliláticos (PLAs) ou pode ser feito de polihidroxialcanatos (PHAs)  criados a partir de microorganismos (bactérias). O plástico PLA é comumente usado em embalagens de alimentos, enquanto o PHA é mais usado em dispositivos médicos. O PLA é o tipo mais comum e também é usado em garrafas plásticas, utensílios e tecidos.

2. Os bioplásticos são melhores para o meio ambiente?

Os plásticos de base biológica têm benefícios, mas apenas quando se leva uma série de fatores em consideração. Onde a matéria-prima foi cultivada? Quanta terra a plantação ocupa? Quanta água é necessária? Como será feito o descarte desse bioplástico? Existem locais adequados para a compostagem desse material?

Ou seja, a resposta precisa considerar muitas condições. Em outras palavras, não existe uma resposta clara. Depende de muita coisa.

3. As plantas, o óleo e a luta pela segurança alimentar

Uma porcentagem do petróleo mundial é usado para fazer plástico, e os defensores do bioplástico apresentam a possível redução nesse uso como um benefício. Este argumento é baseado na ideia de que, se um item de plástico libera carbono uma vez que é descartado, conforme se degrada, os bioplásticos irão adicionar menos carbono à atmosfera porque eles estão devolvendo o carbono que as plantas usaram durante o crescimento ao invés de liberar carbono que estava preso no subsolo na forma de petróleo.

No entanto, não é tão simples assim. Um estudo de 2011 da Universidade de Pittsburgh encontrou outras questões ambientais associadas ao cultivo de plantas para bioplástico. Entre eles estão a poluição por fertilizantes e as terras que precisarão deixar de produzir alimentos para fornecer essa matéria-prima. Usar milho como plástico ao invés de comida está no centro de um debate sobre como os recursos devem ser usados em um mundo com recursos cada vez mais escassos.

4. Bioplásticos duráveis ​​vs. biodegradáveis

Os bioplásticos podem ser amplamente divididos em duas categorias: duráveis ​​e biodegradáveis. Para os consumidores, as diferenças entre os dois nem sempre são claras. O bioplástico durável é feito com até trinta por cento de etanol proveniente de material vegetal. Ele não se decompõe, mas pode ser reciclado com embalagens e garrafas PET tradicionais.

Já os bioplásticos biodegradáveis, como o PLA (ácido polilático) se decompõem nas condições adequadas. Isso é único, já que a maioria dos plásticos atuais nunca se quebrará. Os plásticos de petróleo podem se degradar em pedaços cada vez menores, mas a maioria não se decompõe ou é absorvida pelo ambiente circundante.

5. Os problemas com bioplásticos biodegradáveis

Sem dar mais instruções, é enganoso dizer aos consumidores que esses plásticos são facilmente biodegradáveis. Isso não seria tão preocupante se tivéssemos uma ótima infraestrutura de compostagem, mas não temos. Na verdade, muitas instalações de compostagem industrial operacionais hoje nem mesmo aceitam PLA e outros plásticos biodegradáveis. Eles são vistos como riscos de contaminação.

Os plásticos biodegradáveis ​​também não fazem muito sentido em um contexto de longo prazo. O plástico é um material sintético complexo e altamente refinado – por que criar algo que requer uma quantidade significativa de energia para ser fabricado, apenas para que desapareça para sempre no solo? Claro, isso pressupõe que os plásticos vão realmente encontrar seu caminho para uma instalação industrial, o que parece improvável atualmente.

6. O que acontece quando jogamos fora o bioplástico?

Dependendo do tipo de polímero usado para fazê-lo, o bioplástico descartado deve ser enviado para um aterro sanitário, reciclado como muitos (mas não todos) plásticos à base de petróleo ou enviado para um local de compostagem industrial.

A compostagem industrial é necessária para aquecer o bioplástico a uma temperatura alta o suficiente para permitir que os micróbios o decomponham. Sem esse calor intenso, os bioplásticos não se degradam por conta própria em um período significativo.

Se esses plásticos “verdes” acabarem nos oceanos, eles funcionarão de maneira muito semelhante ao plástico à base de petróleo, quebrando-se em pequenas partes. Ou seja, esse material pode ser compostado, mas precisa de uma instalação industrial para isso. Se a cidade não tiver uma estrutura adequada para tratar estes resíduos, então o destino não difere de nenhum outro plástico.

7. Então, você deve preferir o plástico verde? 

Com a escassez de locais de compostagem industrial, os bioplásticos mudarão pouco a quantidade de plástico que entra nos cursos d’água e aterros sanitários. Sem infraestrutura de compostagem adequada e entendimento do consumidor sobre este tipo de material, os produtos bioplásticos podem acabar se tornando um exemplo que parece sustentável, mas não é.

O marketing por trás desse tipo de produto faz com que o consumidor se sinta bem comprando, mas a realidade é que só faz sentido substituir o plástico comum pelo bioplástico se os sistemas de coleta e destinação estiverem prontos para processar estes materiais.

Uma Solução Melhor

A melhor solução para o plástico verde e o comum ainda é a reciclagem. Desta forma a energia valiosa e os insumos de materiais continuam no ciclo de produção por mais tempo. Também faz muito mais sentido investir na nossa infraestrutura existente, ao invés de construir uma infraestrutura de compostagem de plástico biodegradável inteiramente nova.

Hoje, não temos espaço de terra disponível para cultivar mais matérias-primas bioplásticas (cana-de-açúcar, milho, etc.) sem cortar as terras já utilizadas para a produção de alimentos. Portanto, da próxima vez que você vir um plástico rotulado como “biodegradável”, pense duas vezes antes de cair no marketing. Eles parecem ótimos, mas as afirmações de sustentabilidade são questionáveis.